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O conhecido roteiro da perseguição política que une direita e esquerda

Se você pensava que a política brasileira era um palco dividido por brigas ideológicas insanáveis, prepare-se para o plot twist da temporada. Quando o assunto é cassação de mandato, a extrema-direita e a extrema-esquerda vestem o mesmo figurino e declamam o mesmo texto, como se tivessem frequentado a mesma escola de teatro dramático. O gênero favorito? O drama da "perseguição política".

A Peça em Dois Atos: De Brasília a Natal

O cenário é duplo, mas o drama é o mesmo. Em Brasília, temos o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), um expoente da direita, transformado em réu pelo STF e alvo de uma tentativa do PT para cassar o seu mandato. Qual é a reação imediata do parlamentar, conhecido por seu discurso aguerrido? Chamar o processo de "caça às bruxas", o tribunal de "exceção" e acusar a Justiça de querer tirá-lo do pleito "pelo tapetão". Em suma: estou sendo perseguido!

Quase no mesmo compasso, mas no âmbito municipal de Natal, a vereadora Brisa Bracchi (PT), expoente da esquerda, enfrenta um processo de cassação por supostamente ter usado verba pública em um evento com claro teor político-partidário: o "Rolé Vermelho: Bolsonaro na Cadeia". Ao ter seu parecer de cassação aprovado na comissão, qual é a nota oficial da vereadora? A de que a decisão "reforça o processo de perseguição política".


O Roteiro Cansativo da Vitimização


A convergência é tão previsível que beira o cômico. Não importa a acusação. Se é coação internacional, faltar ao trabalho ou desviar a finalidade de uma emenda para fazer militância paga, a resposta é sempre a mesma: o problema não sou eu; são eles.


A Máscara do Mártir: Ambos se colocam como vítimas do sistema, de adversários políticos ou de um Judiciário que está sendo usado como arma. O processo institucional, que deveria ser um mecanismo republicano de checagem, é instantaneamente deslegitimado e rotulado como um "jogo de cartas marcadas".


 O Trunfo da Urna: Quando acuados, direita e esquerda se unem no mantra sagrado do "voto popular". A cassação de mandato deixa de ser vista como a consequência de uma quebra de decoro ou de lei, e passa a ser tratada como um golpe contra a "vontade do povo" expressa nas urnas. A responsabilidade é terceirizada para a democracia.


No final das contas, o teatro político brasileiro nos mostra que as ideologias podem ser completamente opostas na tribuna, mas nos bastidores, quando a cadeira está em risco, o roteiro é escrito a quatro mãos. A única certeza é que, enquanto a extrema-direita grita que a esquerda persegue e a extrema-esquerda clama que a direita persegue, o que realmente está sendo perseguida é a paciência de quem assiste a essa encenação repetitiva.


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