Em julho de 2025, o Índice de Confiança das Energias Renováveis (ICER) medido pela COERE/FIERN despencou para 51,6 pontos, seu menor nível desde o início da série histórica, e escancarou um contraste inquietante: ao mesmo tempo em que o Rio Grande do Norte consolida liderança nacional em capacidade instalada, o setor reclama de incertezas que ameaçam frear novos aportes. A oscilação sinaliza entraves estruturais que vão desde gargalos de transmissão até a judicialização de projetos.
O maior temor manifestado pelos investidores é o curtailment, ou seja, a necessidade de corte na geração mesmo quando há sol ou vento em abundância, causada por limitações na rede de transmissão. Com quase 70% de sua energia eólica hoje voltada para exportação, o RN convive com linhas sobrecarregadas e subestações que não acompanham o ritmo de novas usinas. Essa deficiência não apenas reduz a rentabilidade das operações, mas também soterra a previsibilidade de longo prazo, peça-chave para atrair fundos estrangeiros que exigem mapas claros de conexão e repasse de energia.
Paralelamente, a insegurança regulatória segue sendo apontada como um dos fatores que emperra decisões de grandes players. A proliferação de medidas provisórias, exigências socioambientais que carecem de padronização e constantes disputas judiciais transformam qualquer edital em terreno movediço. É sintomático que, enquanto o estado caminha para licitar em 2026 cerca de R$ 200 milhões em linhas de transmissão, o setor ainda debate a interpretação de trechos cruciais da Lei de Energia Eólica Offshore, e contesta a responsabilidade de licenciamento ambiental entre diferentes órgãos.
Apesar disso, os números mostram expansão vigorosa: 10,1 GW de eólica em operação – superior aos 8 GW reconhecidos por relatórios oficiais de fevereiro – e 1,43 GW de solar centralizada, além de 0,9 GW em geração distribuída por mais de 105 mil sistemas. Com 14 projetos de eólica offshore já registrados no Ibama e um leque de 9,4 GW de parques fotovoltaicos em pipeline, o RN não só ostenta uma carteira invejável como também serve de laboratório de inovações, como a planta-piloto do SENAI-RN no Porto Ilha. Mas a pulsante expansão enfrenta um paradoxo: em vez de transformar toda essa potência em desenvolvimento local, a maioria dos megawatts circula como commodity, sem gerar um mercado interno robusto que beneficie indústrias e consumidores potiguares.
Ao mesmo tempo, eventos recentes – de ações judiciais de produtores rurais contra a Voltalia por distúrbios de sono até o corte recorde de energia solar que obriga acionamento de térmicas ao pôr do sol – são apontadas no relatório como evidências da necessidade de alinhamento entre oferta e demanda e de maior diálogo com as comunidades impactadas.
No horizonte de 2029, com projeções que apontam para R$ 30 bilhões em investimentos, a sondagem da COERE confirma que, embora a confiança dos investidores em renováveis no RN tenha recuado, o crescimento da capacidade instalada, a existência de projetos estratégicos e melhoria na competitividade indicam que o estado mantém sua vocação de vanguarda no Brasil. O maior desafio é converter essa infraestrutura em mercado interno forte e garantir regras claras que sustentem a expansão para além de 2029.