Faltando um ano e dois meses para a as eleições 2026, a campanha já está nas ruas no Rio Grande do Norte. Sob o nome de Seminário, Rota ou Encontro para não ferir o calendário da Justiça Eleitoral, os principais candidatos se lançam na disputa, reúnem correligionários e apoiadores e mostram as armas e a força que tem para mobilizarem suas bases rumo ao embate que se aproxima.
Este final de semana foi pródigo em eventos dessa natureza. O PL, a pretexto de encerrar o Rota 22, uma série de encontros regionais para na teoria ouvir os anseios da população e preparar um plano de governo, mas que na prática levou o senador Rogério Marinho apostando na força do nome da família Bolsonaro a todos os municípios.
Neste sábado, em Natal, Rogério contou com a presença da ex-primeira-dama Michele Bolsonaro e do presidente do partido Valdemar da Costa Neto, uma velha raposa que já transitou em todos os espectros políticos, mas hoje está afinado com o ex-presidente Bolsonaro a quem chama de dono dos votos, desde que ele continue dono do fundo partidário.
Valdemar da Costa Neto disse que Rogério Marinho pode ser tudo na política nacional pela liderança que tem junto aos parlamentares do partido, mas acredita que o povo do Rio Grande do Norte precisa mais dele aqui “porque os dados do RN são muito ruins e eu tenho certeza de que ele levanta esse Estado se for governador”.
O evento em Natal contou com quatro deputados estaduais: Gustavo Carvalho, Tomba Farias, Teresinha Maia e Coronel Azevedo, além dos deputados federais General Girão, Carla Dickson, de malas prontas para trocar o União Brasil pelo PL.
O alvo principal dos ataques do PL, obviamente, foi o presidente Lula, a quem Michele Bolsonaro chamou de cacheiro e pinguço no palanque, enquanto o deputado Girão falava em pacificação do país, com a anistia dos mais de 1400 presos do 8 de janeiro. Na verdade, dos acusados pelo 8 de janeiro 141 permanecem na cadeia e 44 estão em prisão domiciliar.
O outro lado da moeda
O PT aproveitou o Encontro do partido para dar posse a vereadora Samanda Alves e a deputada Isolda Dantas no diretório estadual na presença do presidente nacional Edinho Silva.
O evento na Arena das Dunas aproveitou a presença da militância petista para dar a largada da candidatura de Fátima Bezerra ao Senado e de Cadu Xavier para o governo. E obviamente da reeleição de Lula.
O PT como sempre mostrou que, apesar da disputa interna bastante acirrada, está unido na hora das eleições. Segundo os organizadores mais de 700 militantes compareceram ao evento. O presidente Edinho Silva falou da polarização e defendeu as alianças para 2026. Resta saber se vai conseguir levar para o palanque de Lula os partidos do Centrão, muito mais próximos da oposição do PL.
O secretário Cadu Xavier começou a colocar as manguinhas de fora e mostrou seu lado político, muito além da sua conhecida competência técnica. Numa indireta ao prefeito de Mossoró Allyson Bezerra, ele disse que “quem acredita na democracia está aqui. Pode fingir que é do povo, pode botar chapéu de couro, mas não vai ganhar o povo do Rio Grande do Norte”.
O encontro do PT contou com os deputados federais Fernando Mineiro e Natália Bonavides e dos estaduais Chico do PT, Divaneide Basílio e Isolda Dantas. O vice-governador Walter Alves, do MDB, não apareceu por perto da Arena das Dunas.
Nas duas pontas
Já o PSD deu de ombros para o antigo aliado PT. O prefeito Allyson Bezerra com seu chapéu de couro apareceu por lá mostrando união alinhamento a senadora do PSD, embora seja filiado ao União Brasil.
O evento exibiu a força da senadora Zenaide Maia. Sob o nome oficial de seminário, ela reuniu os deputados estaduais Kleber Rodrigues (PSDB), Eudiane Macedo (PV) e Teresinha Maia (PL); e mostrou que está com uma base forte nos municípios com a força de Mossoró e dos prefeitos da Grande Natal: Nilda Cruz, de Parnamirim; Emídio Junior, de Macaíba; Jaime Calado, de São Gonçalo; José Figueiredo, de São José do Mipibu; e de outros municípios importantes como Lula Soares, de Assu; Nira Galvão, de Goianinha; Aíze Bezerra, de João Câmara; Getúlio, de Várzea; Ricardinho, de Pureza; Joãozinho, de Brejinho; Edi Carlos, de Poço Branco, entre outros com o destaque para a prefeita de Pau dos Ferros, Mariana Almeida, que a governadora Fátima Bezerra já chamou de vice de Cadú, num palanque recente.
No evento de Zenaide, nem críticas a Lula, nem a Bolsonaro, nem a Fátima, nem a Rogério Marinho.
Embora tenha feito um mandato muito mais claramente ligado às pautas da esquerda, a força da senadora está nas emendas parlamentares. Ela mesma falou isso durante o evento e disse se orgulhar de ter enviado recursos para os 167 municípios do RN.
Com 64 milhões por ano para apresentar emendas parlamentares, cada senador tem meio bilhão de reais para apresentar de emendas ao longo do mandato, valor normalmente pulverizado por pequenos projetos que permitem atender a suas bases. A senadora mostrou saber que hoje essa é uma ferramenta difícil de ser enfrentada por quem pensa em se apresentar pela primeira vez.
Com isso, Zenaide tem sido apontada como a senadora de prefeitos e lideranças tanto ligados a Fátima como a Rogério, ou seja, ela é vista no meio político como o segundo voto de um lado e de outro.
O que preocupa é que há também um grupo de prefeitos votando em Fátima e Styvenson Valentim, outro que se valoriza pela destinação de emendas para os municípios.
Essa preocupação ficou clara na fala do prefeito mossoroense, que fez questão de levar um grupo de vereadores de Mossoró para o evento de Zenaide. “esse é o momento que a gente estava aguardando para fazer de Zenaide a senadora número 1 do Rio Grande do Norte”.
No tabuleiro de 2026, as peças começam a se organizar para termos três candidaturas ao governo com Rogério, Allyson e Cadú.
Sem espaço para aparecer e sem conseguir se firmar em nenhum bloco, quem corre por fora é o ex-prefeito Álvaro Dias, que tem andado pelo Estado, mas até agora não conseguiu reunir apoios de peso em torno do seu projeto de governar o RN.