O Teatro Sesc Sandoval Wanderley inicia neste sábado (8) sua nova fase com programação aberta ao público. Às 16h, o espetáculo “Menino Pássaro”, da Cia Trapiá, marca a reestreia de um dos espaços culturais mais simbólicos de Natal. No domingo (9), o grupo Quarteto Linha se apresenta às 19h, com ingressos gratuitos pela plataforma Sympla, em troca de alimentos para o projeto Sesc Mesa Brasil.
A reabertura, celebrada na noite de ontem com evento restrito a convidados, simboliza o renascimento do antigo “Teatrinho do Povo”, após mais de 15 anos de portas fechadas. O espaço, completamente restaurado, passou a ser administrado pelo Sistema Fecomércio, por meio do Sesc-RN, através de um convênio assinado no final do ano passado após aprovação de uma lei que permitiu a parceria entre a Prefeitura e o SESC que já administra dezenas de espaços culturais pelo Brasil. O SESC RN também anunciou agora três editais de fomento cultural, somando R$ 590 mil em investimentos.
Para o presidente do Sistema Fecomércio, Marcelo Queiroz, o novo Teatro Sesc Sandoval Wanderley nasce com vocação democrática e popular. “É uma programação robusta e de qualidade. O Sistema Fecomércio está entregando um equipamento que vai movimentar não apenas o Alecrim, mas toda a cidade e a cadeia da economia criativa”, afirmou.
O “nó cego” que manteve o teatro interditado
Fechado desde o início de 2009, o Sandoval Wanderley foi interditado definitivamente em março de 2010 pelo Corpo de Bombeiros e pelo Ministério Público, devido à falta de acessibilidade, de projeto de combate a incêndio e, principalmente, da exigida saída de emergência. O prédio, construído em 1959, havia se tornado inseguro e, portanto, sem condições legais de receber público.
Durante mais de uma década, o teatro foi motivo de frustração para artistas e produtores culturais. Houve anúncios de recursos e emendas parlamentares, inclusive da então deputada federal Fátima Bezerra, na época em que as emendas ainda não eram impositivas e dependiam da boa vontade do Executivo para serem liberadas, mas nenhuma tentativa prosperou. As obras esbarravam sempre na mesma barreira: sem o habite-se e o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), os projetos não podiam ser aprovados nem os recursos aplicados.
Durante anos, o problema não era apenas orçamentário, mas também técnico já que sem a aprovação dos bombeiros também não era possível aprovar um projeto para liberar recursos federais via Caixa Econômica Federal.
A solução encontrada pela gestão Álvaro Dias
O chamado “nó cego” do projeto foi finalmente desatado na gestão do ex-prefeito Álvaro Dias, que decidiu encarar o problema estrutural e financeiro buscar uma solução conjunta com o Governo do Estado. A proposta técnica consistiu em abrir uma saída de emergência pela lateral do teatro, desembocando na Escola Estadual Professor João Tibúrcio, vizinha ao prédio, e daí dando acesso à rua.
A solução exigiu negociação direta entre a Prefeitura e o Governo do RN, que autorizou o uso de parte do terreno da escola para implantação da rota de fuga e da área de escape, cumprindo as exigências de segurança previstas no projeto de combate a incêndio. Com isso, a Prefeitura pôde obter o AVCB e destravar o habite-se, condição indispensável para iniciar a obra.
Além disso, o prefeito que havia prometido reabrir o “Teatrinho do Povo” numa solenidade da qual participou no imponente Teatro Riachuelo cheio de artistas e produtores culturais, assumiu a obra como prioritária, assegurando os recursos do orçamento municipal para sua execução.
Projeto inovador e retomada das obras
O projeto de requalificação que orientou a reforma nasceu de uma proposta da arquiteta e urbanista Débora Mendes, inicialmente elaborada como trabalho de conclusão de curso. A ideia ganhou repercussão nas redes sociais e acabou sendo acolhida pela Prefeitura, que convidou a autora a apresentar a proposta, posteriormente doada e adaptada aos parâmetros técnicos da Secretaria de Obras.
Iniciadas em 2022, as obras envolveram não apenas a restauração estrutural, mas também a completa modernização do espaço cênico. O novo Sandoval Wanderley incorpora elementos contemporâneos, como um teto retrátil no espaço cênico permitindo iluminação natural e até a visualização do céu em determinadas montagens e uma plateia móvel, que pode se adaptar a diferentes formatos de espetáculo.
A sessão ao Sesc foi outra saída pensada pelo ex-prefeito. Com ela, a Prefeitura entregou o prédio à Fecomércio que se comprometeu a adquirir o que faltava do mobiliário e agora reabre o teatro passando a ser responsável por seu funcionamento e manutenção,outro problema que o setor público teria para que o teatro voltasse a ser aberto pela falta de pessoal para sua operacionalização.
Patrimônio cultural de volta ao povo
Com o novo projeto, o Sandoval Wanderley foi completamente transformado: ganhou acessibilidade, climatização, iluminação e sonorização modernas. O investimento total superou R$ 5 milhões.
A cessão ao Sesc assegura a manutenção do espaço e uma programação permanente de música, teatro, circo e dança, consolidando o teatro como um símbolo de revitalização do Alecrim e de fortalecimento da economia criativa em Natal.
Para o ex-prefeito Álvaro Dias, que conduziu a retomada do projeto, a reabertura representa mais do que a recuperação de um prédio histórico: “Foi um desafio técnico, institucional e político, mas que valeu a pena. O Sandoval Wanderley é parte da memória afetiva da cidade e volta a cumprir sua vocação de ser um espaço popular, aberto a todos”.