O hacker Walter Delgatti afirmou hoje em sessão na Câmara que a deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP) lhe disse que, caso ele fosse pego poderia dizer que tinha sido ela quem mandou fazer.
Delgatti presta depoimento em processo de cassação da deputada que tramita na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania). O processo foi encaminhado à comissão em junho pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O caso também será analisado pelo plenário da Câmara e são necessários 257 votos para que ela seja cassada.
No dia em que ela pediu que eu invadisse, ela me disse assim: 'Se caso você for pego ou processado, você pode falar que quem mandou fazer isso fui eu, você pode falar que eu assumo isso'. Ela me deu essa garantia, ela está me ouvindo, ela sabe disso, ela sabe que ela olhou em meus olhos e me disse: 'Você pode falar que fui eu que mandei, que eu responderei por isso', quando ela pediu que eu invadisse.
Presa na Itália, Zambelli acompanhou de forma virtual os depoimentos e fez perguntas a Delgatti. A oposição reclamou que se tratava de acareação. Além dele, o especialista em coleta e preservação de provas digitais Michel Spiero foi ouvido. A parlamentar e sua defesa podiam fazer perguntas a ambos.
Delgatti declarou que realizou invasões a sistemas do CNJ entre 2022 e 2023. Ele disse que Zambelli queria que ele comprovasse que "o sistema era violável". "Ela pediu que eu invadisse o TSE, o CNJ, o STF, que eu conseguisse comprovar que o sistema era violável, pois ela queria desacreditar o discurso que à época havia sobre a segurança do sistema de justiça e do TSE do Brasil", declarou. Ele está preso em Tremembé (SP) e presta depoimento por videoconferência.
Hacker disse que não tem mensagens trocadas com Zambelli. Informou que por causa da Operação Spoofing —investigação sobre a invasão a celulares de autoridades relacionadas à operação Lava Jato no Telegram—, não podia usar a internet. "Todos os dias antes de dormir, eu resetava.
À CCJ, ele disse que "apenas" invadiu após pedido da deputada. Declarou que não teria motivo para "invadi-lo sem esse pedido". "Eu não tinha interesse nisso", disse.
Delgatti disse que Zambelli ordenou que ele fizesse um despacho e uma ordem de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo o hacker, a deputada teria enviado "até a síntese da decisão".
Seria emitida uma ordem de prisão contra o desfavor do ministro Alexandre de Moraes, como se fosse ele mesmo mandando prender ele mesmo, que seria uma sátira, que é uma forma de comprovar que realmente o sistema foi invadido, do que eu invadir e pegar uma parte técnica e divulgar.
Hacker contou que criou um robô para fazer testes na invasão ao sistema do CNJ. Relatou que, antes do mandado de prisão de Alexandre de Moraes, o robô criou alvarás de soltura aleatórios.
Zambelli acompanhou toda a sessão e chorou em alguns momentos. A deputada ainda será chamada para prestar depoimento. Hoje, a parlamentar fez perguntas a Delgatti. Em um momento, chamou o hacker de mitomaníaco. "Ele está errado em relação a muitas coisas", disse.
Relator do caso na CCJ, o deputado federal Diego Garcia (Republicanos-PR), perguntou a Delgatti se o hacker já havia sido diagnosticado com mitomania. Ele negou e afirmou ter se arrependido do que fez.
Zambelli foi detida em 29 de julho na Itália. À comissão, ela alegou ter sido condenada "por um mandato de prisão do Alexandre de Moraes e por mais 15 mandatos de soltura de criminosos do PCC, do Comando Vermelho, de traficantes de drogas, assassinos e estupradores."Se fosse só uma, se fosse só o mandado de prisão do Alexandre de Moraes, eu estaria respondendo alguns meses de prisão no máximo", declarou.
A Justiça local decidiu que ela seguirá presa no país durante o processo de extradição. Ela está detida no Complexo Penitenciário de Rebibbia, em Roma, e teve a prisão preventiva decretada pelo STF por motivo de fuga.
A parlamentar deixou o Brasil após ser condenada a dez anos de prisão pelo STF. A decisão na Primeira Turma do Supremo foi por unanimidade (5 votos a 0), pelo caso da invasão hacker ao CNJ.
Zambelli e Delgatti foram condenados pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Além do tempo de reclusão, os ministros determinaram que ela perdesse o mandato na Câmara, o que está sob análise.
Entre as testemunhas apontadas pelos advogados da parlamentar estão o perito judicial Eduardo Tagliaferro e o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. O objetivo é reforçar a tese de que Zambelli sofre uma perseguição política.
Do UOL