As companhias aéreas parecem ter descoberto a fórmula mágica do capitalismo contemporâneo: tirar o que era básico, rebatizar de “serviço adicional” e, claro, cobrar por isso. A mais nova adepta do modelo é a WestJet, segunda maior empresa aérea do Canadá, que decidiu que reclinar o assento será um privilégio e, claro, irá cobrar por isso.
A empresa anunciou uma reforma nas cabines de 43 aviões de sua frota. As novas aeronaves, modelos Boeing 737-8 MAX e 737-800, virão com assentos de encosto fixo para a classe econômica. Só quem pagar mais pela cadeira “Premium”poderá inclinar o corpo e sonhar com um pouco de conforto.
A WestJet garante que não é ganância, é “preservar o espaço pessoal” dos passageiros. A companhia jura que muitos clientes preferem o novo modelo, para não ter “o incômodo de quem reclina demais”.
O primeiro avião reformado começa a voar neste mês, e os demais entram em operação até o início de 2026. Segundo a empresa, os novos assentos terão melhor apoio lombar e encosto de cabeça “ergonômico”. Um mimo, se o passageiro não se importar em ficar imóvel por horas.
Aqui no Brasil, o Congresso Nacional promete reagir à medida da Gol que resolveu cobrar pelo transporte de bagagem de mão. As empresas aéreas, depois de cobrar pela bagagem despachada, pela marcação de assento, pelo embarque prioritário e até pelo copo d’água, agora querem que o passageiro seja obrigado e a despachar a bagagem e, off course, cobrar por isso.
No ritmo em que as coisas vão, não será surpresa se o próximo passo for cobrar por categorias inéditas: tarifa “em pé”, tarifa “sentado”, tarifa “com direito a respirar” e, quem sabe, um adicional para quem quiser olhar pela janela.
As empresas dizem que estão apenas oferecendo “mais opções ao consumidor”. E de fato estão — a opção entre pagar caro para viajar ou ainda mais caro para se mexer, não passar sede, e quem sabe num futuro não muito distante usar uma luz interna para leitura.
Voar, que já foi sinônimo de liberdade, virou um experimento de imobilidade tarifada.