O Brasil entrou de vez no radar das grandes multinacionais de tecnologia que disputam espaço para instalar data centers, estruturas físicas que concentram servidores responsáveis por armazenar, processar e distribuir dados em escala global. Impulsionada pelo avanço da inteligência artificial e pela explosão no consumo de serviços digitais, a demanda por esse tipo de infraestrutura cresce de forma acelerada e começa a redesenhar o mapa global da tecnologia.
A mais recente aposta vem da americana RT One, que levantou cerca de R$ 15 bilhões para instalar três grandes centros de dados no país. A empresa pretende erguer, em território brasileiro, os maiores data centers da América Latina, com a primeira entrega prevista já para o próximo ano. O projeto reforça a estratégia de expansão das companhias norte americanas fora dos Estados Unidos, onde a capacidade elétrica para absorver novos empreendimentos do tipo está próxima do limite.
Embora sejam pouco visíveis ao público, os data centers exigem volumes expressivos de recursos naturais. Além de grandes extensões de terra, consomem enormes quantidades de energia elétrica e água, principalmente para refrigeração dos equipamentos. Também demandam minerais estratégicos para a fabricação de servidores e sistemas de armazenamento.
A disputa por protagonismo nesse setor ganhou um novo capítulo com outro megaprojeto em andamento no Nordeste. No Porto de Pecém, no Ceará, a Casa dos Ventos e a ByteDance, conglomerado chinês que controla o TikTok, receberam aval para instalar cinco data centers. O investimento estimado supera R$ 400 bilhões até 2035, valor que colocaria o empreendimento entre os maiores do mundo nesse segmento.
O governo federal tem atuado para atrair esse tipo de investimento. Em setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma medida provisória que concede isenção de impostos para produtos adquiridos por empresas responsáveis pela construção dessas infraestruturas, numa tentativa de posicionar o Brasil como destino competitivo na nova economia digital.
A América Latina desponta como nova fronteira para os centros de dados globais. A região reúne fatores considerados estratégicos pelas empresas, como disponibilidade de energia limpa a custos relativamente baixos, vasto espaço físico e potencial de expansão. Hoje, enquanto os Estados Unidos concentram cerca de 40% dos data centers do planeta, o Brasil responde por apenas 1,8% desse total, percentual visto pelo mercado como oportunidade de crescimento.
O avanço, no entanto, não ocorre sem controvérsias. O Ministério Público Federal solicitou explicações ao governo do Ceará sobre a concessão da licença ambiental ao projeto da ByteDance. Segundo o MPF, o empreendimento pode representar um potencial vetor de agravamento da escassez hídrica, intensificar a vulnerabilidade climática da região, elevar riscos à segurança alimentar e provocar violações de direitos socioambientais.