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Data centers verdes podem transformar o RN em hub digital sustentável, afirma especialista

O coordenador do IALab do Sebrae/RN, professor Carlos Von Sohsten, defende que a atração de data centers verdes para o Rio Grande do Norte representa uma oportunidade histórica de desenvolvimento econômico. Integrante do grupo criado pelo Governo do Estado para formular essa política, ele destaca que o RN reúne vantagens competitivas, como a produção de energia renovável em larga escala, capazes de transformar o estado em um hub digital sustentável. Na entrevista a seguir Von Sohsten explica os impactos da inteligência artificial nos pequenos negócios e os desafios para formar profissionais preparados para essa nova economia.

 

Para começar professor, explique o que é o IALab do SEBRAE/RN e cite exemplos práticos de como o uso da IA tem transformado negócios locais no RN?

O IALab é uma iniciativa estratégica do SEBRAE/RN voltada a impulsionar a adoção da inteligência artificial entre micro e pequenas empresas (MPEs) do Rio Grande do Norte, promovendo transformação digital e maior competitividade no ecossistema local de negócios.

Seu principal objetivo é democratizar o acesso a soluções baseadas em IA, conectando inovação tecnológica com as necessidades reais das empresas potiguares. O IALab não é uma unidade de atendimento direto ao público, mas sim uma plataforma de articulação e desenvolvimento de soluções em IA, cujos resultados são entregues às empresas por meio das agências, canais de atendimento e unidades de negócio do SEBRAE.

O IALab atua em três frentes principais:

  1. Capacitação e Disseminação de Conhecimento em IA
  • Oferece cursos, trilhas formativas e conteúdos educativos voltados ao uso da IA em pequenos negócios.
  • Atua como curador de tecnologias, ajudando empresários a entenderem como e onde aplicar IA de forma prática e acessível.
  1. Desenvolvimento de Soluções Digitais
  • Credencia startups, empresas de tecnologia e instituições parceiras para co-desenvolver soluções de IA personalizadas, como MVPs e protótipos voltados a desafios reais enfrentados por MPEs.
  • Estimula a inovação aplicada, por meio de chamadas públicas e articulações com o ecossistema local.
  1. Ferramentas Inteligentes de Apoio ao Empreendedor
  • Lançou o AssessorIA Sebrae, um conjunto de três assistentes virtuais gratuitos com IA, disponíveis no portal do SEBRAE-RN, que auxiliam empresários a:

o             Estabelecer metas de crescimento;

o             Identificar riscos no negócio;

o             Criar campanhas de marketing com IA.

 

Sem  dúvida, a atuação do IALab já vem gerando impactos concretos e poderia citar o  uso feito por empresas do setor de alimentação utilizando IA para prever demanda e evitar desperdício de insumos; comércios locais automatizando atendimento com chatbots treinados para o seu público-alvo; empreendimentos criativos e artesanais usando IA para criar descrições de produtos, textos de redes sociais e roteiros de vendas e a adoção de IA no planejamento financeiro e simulação de cenários de risco, com base em ferramentas oferecidas pelo AssessorIA.

Os data centers consomem muita água, um recurso escasso no RN em épocas de seca. Quais soluções os data centers verdes no estado poderiam adotar para minimizar esse consumo e seus impactos ambientais?

Essa preocupação é legítima, mas não corresponde à realidade atual dos data centers modernos, especialmente aqueles que seguem o conceito de data centers verdes, como os que estão sendo prospectados para serem implantados no RN.

Primeiro, é importante destacar que a participação dos data centers no consumo nacional de água é extremamente baixa. Segundo a Brasscom (2025), em 2022 os data centers consumiram apenas 0,003% da água no Brasil — o equivalente ao consumo de cerca de 34,9 mil pessoas. Mesmo com o crescimento previsto até 2029, esse percentual deve subir para apenas 0,006% do uso nacional de água, mantendo-se marginal no cenário hídrico nacional.

Além disso, os data centers verdes utilizam tecnologias de resfriamento altamente eficientes, priorizando o uso de circuito fechado, no qual a mesma água é reaproveitada continuamente, com reposições mínimas (cerca de 10% ao ano). Hoje, cerca de 80% do parque nacional já opera com esse sistema, e a expectativa é alcançar 90% até 2030.

Outras estratégias adotadas incluem:

  • Sistemas de resfriamento a ar, que eliminam totalmente o uso de água.
  • Refrigeração por imersão ou direct-to-chip cooling, que aumentam a eficiência térmica e reduzem a necessidade de resfriamento tradicional.
  • Utilização de fontes não potáveis de água, que já representam 43% do total utilizado por data centers no mundo, segundo a revista Nature (2021).

Essas soluções vêm sendo incorporadas por data centers planejados com critérios ESG e sustentabilidade ambiental, como os que se busca atrair para o RN. Isso garante não apenas baixo impacto hídrico, mesmo em regiões semiáridas, como também alinha a expansão digital à preservação ambiental.

Portanto, é essencial desmistificar a ideia de que data centers são vilões do consumo de água. Ao contrário, quando bem projetados, são exemplos de uso inteligente de recursos, contribuindo para a economia digital sem comprometer a sustentabilidade local.

Considerando a instalação desses data centers, qual a vantagem econômica direta para a população potiguar? Além da geração de empregos, a atração desses data centers traz novas empresas e investimentos para o estado? Que setores da economia local são beneficiados?

A instalação de data centers no Rio Grande do Norte representa uma oportunidade estratégica de desenvolvimento econômico com benefícios diretos e indiretos para a população potiguar — especialmente em setores como energia, tecnologia, serviços, educação e infraestrutura.

  1. Valorização da energia limpa produzida no estado

Atualmente, o RN é um dos maiores produtores de energia eólica e solar do Brasil, mas exporta boa parte dessa energia para outros estados, o que significa que os tributos e o valor agregado da cadeia energética ficam fora do RN.

Com a instalação de data centers que demandam alto consumo energético:

  • A riqueza gerada pela energia limpa permanece no estado;
  • Reduz-se o curtailment, que é o desligamento de turbinas eólicas por excesso de geração sem demanda local, problema que afeta a viabilidade de usinas renováveis no RN;
  • Gera-se valor agregado à matriz energética local, fortalecendo a cadeia produtiva e atraindo mais investimentos no setor.
  1. Geração de empregos qualificados e serviços indiretos

Data centers criam empregos diretos e altamente qualificados nas áreas de:

  • Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC);
  • Engenharia elétrica e de sistemas;
  • Infraestrutura de TI e manutenção de equipamentos;
  • Gestão de data centers e cibersegurança.

Além disso, há uma cadeia de empregos indiretos e induzidos em áreas como:

  • Segurança patrimonial;
  • Limpeza e manutenção predial;
  • Logística, transporte e construção civil;
  • Serviços de alimentação e hotelaria, principalmente durante a fase de instalação.

Essas oportunidades beneficiam desde profissionais altamente especializados formados por instituições locais, até trabalhadores de base em serviços gerais, promovendo inclusão produtiva.

  1. Atração de novas empresas e investimentos

Data centers funcionam como âncoras tecnológicas, incentivando a chegada de:

  • Startups e empresas de tecnologia, atraídas pela proximidade com a infraestrutura de dados;
  • Empresas de serviços em nuvem, telecom e inteligência artificial;
  • Centros de inovação, universidades e institutos de pesquisa, que se conectam ao ecossistema digital;
  • Investidores do setor imobiliário e de infraestrutura, devido à necessidade de terrenos, conectividade e logística.

Essa movimentação aquece setores estratégicos da economia local, como:

  • Tecnologia e inovação;
  • Energia renovável e engenharia;
  • Construção civil e serviços técnicos especializados;
  • Educação e qualificação profissional.

A presença de data centers transforma o RN de mero exportador de energia em hub digital estratégico e sustentável, com retorno real para a economia e a sociedade.

Quais são os principais desafios para formar profissionais qualificados que possam atender à demanda desses data centers e da inovação tecnológica no estado?

O principal desafio não está apenas em formar profissionais, mas em formar os profissionais certos, no tempo certo, com as competências certas.

Estamos vivendo uma transição acelerada para uma economia movida por dados, inteligência artificial e computação em nuvem — e a instalação de data centers no RN é parte disso. Para acompanhar essa transformação, precisamos alinhar a oferta de formação técnica e superior à demanda real do mercado.

Entre os principais desafios, destacam-se:

- Atualização curricular nas instituições de ensino

- Capacitação contínua de professores e instrutores

- Infraestrutura de ensino e acesso digital

- Retenção de talentos no estado

- Integração entre governo, setor produtivo e academia

Se quisermos que o RN seja protagonista na nova economia digital, precisamos tratar a formação de talentos como prioridade estratégica — não apenas para abastecer os data centers, mas para construir um futuro de inovação com identidade potiguar.

Nesse sentido, a Governança IA para o RN — uma articulação integrada que reúne o setor público, produtivo, acadêmico e sociedade civil para posicionar o estado como referência em inteligência artificial — está priorizando essa pauta. Por meio da Câmara Temática de Educação e Formação Profissional, a Governança vem unindo as instituições acadêmicas e de formação técnica e profissional para pensar, discutir e propor soluções concretas para qualificação de talentos, alinhadas às novas demandas tecnológicas do RN e do Brasil.


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