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Setor de óleo e gás enfrenta escassez de mão de obra qualificada

A transição energética está no centro das transformações do setor de óleo e gás, mas a falta de profissionais qualificados ameaça o ritmo e a eficiência dessa mudança. Enquanto governos e empresas anunciam metas ambiciosas de descarbonização, o mercado global enfrenta um déficit crescente de engenheiros, técnicos e especialistas capazes de conduzir a evolução para uma matriz mais limpa e tecnológica.

Um estudo da Kearney em parceria com a IEEE Power and Energy Society estima que o número de engenheiros de energia necessários até 2030 será o dobro do atual, alcançando entre 450 mil e 1,5 milhão de profissionais. No Brasil, a projeção é ainda mais expressiva: 7,5 milhões de novas vagas deverão ser criadas na próxima década para sustentar os investimentos em infraestrutura e fontes renováveis.

Apesar do avanço de programas de capacitação, quase metade dos engenheiros de energia mudou de emprego ou deixou o setor desde 2021, segundo o levantamento, impulsionados por burnout, baixa atratividade das funções e falta de oportunidades de crescimento lateral. Para 40% dos executivos ouvidos, a competição por talentos e a escassez de qualificação já impactam diretamente a execução de projetos estratégicos. “Simplesmente não há engenheiros suficientes com as habilidades e a capacidade necessárias para implementar as mudanças exigidas nesta década — e essa lacuna está crescendo”, afirma Claudio Gonçalves, sócio da prática de energia da Kearney.

Desafio duplo

No Brasil, o desafio é duplo: o país precisa acelerar a transição energética ao mesmo tempo em que enfrenta uma carência histórica de profissionais em engenharia e tecnologia. Estudo da FGV Energia projeta que o setor de petróleo e gás demandará 250 mil novos trabalhadores até 2030. Já pesquisa da Abespetro em parceria com o IBP aponta déficit de 15% a 20% na força de trabalho qualificada, sobretudo em serviços especializados.

Grande parte da pressão vem do envelhecimento da mão de obra e da dificuldade de atrair jovens talentos. “O setor é visto como uma contradição com a visão de mundo dos jovens, quando na verdade concentra alguns dos projetos mais inovadores em robótica e automação do país”, explica Alfredo Renault, CEO do Centro de Soluções Tecnológicas de Baixo Carbono da Coppe/UFRJ.

A transformação tecnológica também cria novas funções. Cientistas de dados, engenheiros de robótica e especialistas em energia renovável tornam-se essenciais para integrar processos e reduzir emissões. O profissional ideal combina domínio técnico, competências digitais e visão sustentável — uma tríade ainda rara no mercado.

Apesar das dificuldades, o setor continua oferecendo oportunidades de crescimento e remuneração acima da média. Engenheiros de petróleo e geólogos iniciam a carreira com salários entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, podendo ultrapassar R$ 30 mil com experiência. Técnicos de operações partem de R$ 3 mil a R$ 5 mil, chegando a R$ 10 mil em posições sêniores.

Empresas buscam reverter a tendência com programas de trainee, parcerias com universidades e capacitação contínua. O programa “Offshore do Futuro”, da UnIBP com Equinor e SBM Offshore, forma profissionais alinhados às novas demandas do mercado energético. “É uma indústria em plena transformação. O profissional que souber unir técnica, inovação e propósito sustentável terá vantagem”, diz Karen Cubas, gerente da UnIBP.

O relatório da Aggreko sobre o setor de óleo e gás na América Latina reforça essa percepção. Embora 91% dos executivos acreditem ser possível tornar o setor mais sustentável, apenas 53% das empresas já adotam iniciativas concretas. O gargalo de infraestrutura e a falta de pessoal preparado aparecem entre os principais entraves à transição.

Com o Brasil assumindo papel de destaque — seja pelo potencial do pré-sal, seja pelo compromisso de neutralidade de carbono até 2050 —, especialistas alertam que o sucesso da transição energética dependerá tanto de investimentos em tecnologia quanto de uma profunda requalificação da força de trabalho. “A energia do futuro vai depender menos do tipo de combustível e mais das pessoas capazes de transformar o sistema”, resume Renault.


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