O blog reproduz artigo publicado pelo engenheiro Igor Pires, no jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza, sobre a falta de um equipamento que poderia trazer mais voos de aeronaves maiores para Natal
Igor Pires
igor.aer.ita@gmail.com
O aeroporto de Natal conta com uma ampla infraestrutura e foi projetado para receber aeronaves de grande porte, como o Airbus A380. No entanto, sua estrutura está subutilizada.
Um dos problemas é a ausência de equipamentos motrizes adequados para o reboque de grandes aeronaves, limitando sua operação regular e sua capacidade de receber voos alternados.
O QUE SÃO VOOS ALTERNADOS?
Os voos alternados são aqueles que acabam realizando pousos em aeroportos não previstos.Por exemplo, o aeroporto de Fortaleza recebe com frequência alternados internacionais de companhias como Latam, Azul, Air France, Iberia, Klm, Swiss. Ou seja, os voos foram desviados para Fortaleza por motivos variados. São dezenas de casos entre 2024 e 2025.
Teoricamente, o aeroporto de Natal, pela localização tão favorável quanto Fortaleza, deveria partilhar a recepção desses voos com frequência, porém, não é o que acontece.
Uma das razões que pode explicar a ausência de alternados frequentes num mega aeroporto como o de Natal está ligada à ausência de trator rebocador para categoria E de aeronaves, aviões com envergadura de asa maior que 52m, como o Airbus 330, o Boeing 787-9 e o Airbus 350.
“Atualmente, há disponibilidade de barras de reboque e escadas compatíveis com aeronaves categoria E. Contudo, a ausência de trator rebocador inviabiliza a operação de pushback. Esses equipamentos são de responsabilidade das empresas de ground handling e não do aeroporto”, disse Zurich Airports à coluna, concessionária do aeroporto de Natal.
FALTA DE VOOS REGULARES PODE EXPLICAR AUSÊNCIA DO TRATOR
Um dos motivos que deve explicar a ausência desse trator é a falta de voos regulares em Natal operando com aeronaves categoria E. Por exemplo, até mesmo a Tap, opera seus voos a Lisboa com o A321 LR, categoria 4C. Há menos de 10 anos, eram os A330.
Assim, se o aeroporto não opera frequentemente com os widebodies (aeronaves de fuselagem larga), a escolha da empresa que opera ground handling (equipamentos de solo) é a de optar por não pagar por um ativo que será subutilizado, por razões óbvias.
Em Natal, a empresa DNATA é a responsável pelas operações de handling. Tentamos contato algumas vezes pelo site da empresa, porém, não tivemos resposta. O espaço segue aberto.
Por outro lado, nivela-se o aeroporto por baixo, porque no caso de o voo da TAP experimentar um acréscimo de passageiros em cima da hora, não conseguirá enviar o Airbus 330 para operar a rota, por exemplo, ou o processo de embarque e desembarque será menos confortável. Portanto, trata-se de menos movimento para o aeroporto.
Ainda, a ausência de widebodies categoria E no aeroporto é a certeza que não haverá uma relevante operação cargueira, dado que os aviões de apenas um corredor não têm capacidade de carga para grandes distâncias como as que atravessam o atlântico.
Apesar disso, o Natal Airport esclarece que está apto a receber aeronaves de grande porte da categoria E, como Airbus A330, A340 e Boeing 787, em operações de alternado.
Ocorre, porém, que numa situação de alternado sem tratoreio para pushback, os passageiros precisarão desembarcar através de escadas com o apoio de ônibus, algo menos confortável, que a saída pelos gates, pontes de embarque.
ALTERNADOS NO PÁTIO REMOTO
Um dos casos mais emblemáticos de desvio de voo para Natal ocorreu em 2024 quando um gigante Boeing 787-9 da empresa Air Europa alternou para a capital do RN.
Após enfrentar uma turbulência severa sobre o atlântico, o voo que se dirigia de Madri para Montevideo, desviou para Natal, dada a quantidade de passageiros machucados. Foi em primeiro de julho de 2024.
Sem o trator adequado para movê-la, o 787 ficou posicionado no pátio remoto 01 do aeroporto, próximo à torre de controle, porém, não ficou alinhado às posições de estacionamento, mas transversalmente a elas.