Opinião do Blog

A disputa em torno do parque da Roberto Freire pode muito bem ser encerrada se IDEMA e Semurb superarem as ingerências políticas e buscarem uma conciliação em torno do tema.

O IDEMA realizou uma pesquisa de campo com moradores e frequentadores do entorno durante o processo participativo de revisão do Plano de Manejo, e conclui que a região carece de equipamentos de esporte e lazer, o que reforça a necessidade de novos espaços de uso público no que chama de borda sul do parque, área dos tabuleiros costeiros junto à Roberto Freire.

Os questionários aplicados na possível área de novo acesso público (Zona de Recuperação) apontaram que “76,6% dos entrevistados consideram necessária a criação desse novo acesso, o que reflete a demanda por novos espaços de lazer e convivência em contato com a natureza”

Se há uma área que o Plano permite uma utilização maior, a Prefeitura poderia propor a instalação na área que o IDEMA afirma ser intocável de um local com uso restrito.

Por que não fazer nessa área um Jardim Botânico como existe em outras cidades com uso permitido para determinadas atividades? Não há nenhum projeto ainda definido, a sociedade ainda pode ser ouvida em audiências ou consultas públicas e nelas se obter opiniões e sugestões a respeito.

O Brasil tem 10 jardins botânicos onde a preservação ambiental e o uso humano com atividades controladas convivem muito bem. Exemplos como a Mata do Buraquinho, em João Pessoa,  ou o Jardim Botânico de Brasília que preserva o cerrado, ou o de Curitiba com a famosa estufa de vidro, ou ainda  o do Rio de Janeiro, embora esse tenha sido criado por Dom João VI para  receber espécies trazidas de outras partes do mundo, são exemplos que conheço pessoalmente de como é possível e até desejável  conciliar a  convivência humana com áreas preservadas até como instrumento de educação ambiental para as atuais e futuras gerações.

Aqui mesmo em Natal, o Parque da Cidade foi erguido em 2008 entre os bairros  de Candelária e Nova Natal, na  gestão do prefeito Carlos Eduardo, permitindo preservar 154 hectares numa área crucial para o abastecimento do aquífero  Guarani e que era bastante cobiçada pelo mercado imobiliário.

Mas isso não impediu que o Parque tenha trilhas pavimentadas e pontos de descanso ao longo do percurso, com espaço destinado à caminhada e ciclovia, e um mirante, onde funciona um memorial da Cidade de Natal, projetado por Oscar Niemeyer, além de ter espaço  para realização de estudos e pesquisas científicas, uma  biblioteca, salas de aula, auditório e outras estruturas que servem de apoio a diversas ações de educação ambiental.

Mesmo com a ocupação dessa parte do parque, ele foi classificado como Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integra pelo Ministério do Meio Ambiente. Isso significar dizer que apenas o uso indireto dos recursos naturais é permitido, como em pesquisa científica e ecoturismo.

O ponto de vista é que o parque da Roberto Freire poderia ter parte utilizada com quadras, área de lazer com equipamentos para atividades recreativas para crianças, estacionamento, lanchonete ou café, uma loja de souvenir, o que mais se possa pensar, e a outra parte ser destinada a trilhas, caminhadas, educação ambiental e talvez uma Jardim Botânico com visitação regulamentada, atraindo turistas e natalenses.

No fim das contas, o impasse parece menos sobre o verde das dunas e mais sobre o palanque político. O que há, por enquanto, é uma ideia de parque e um campo de batalha de discursos.

Diante de um Plano de Manejo que já oferece bases para conciliar preservação e uso público, o que falta não é permissão, é vontade de dialogar.

 


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