O Nordeste do Brasil emerge no cenário global como um polo estratégico para a infraestrutura digital, impulsionado pela abundância de energia renovável e por incentivos fiscais inéditos. O investimento total na região, que mira o crescimento exponencial da Inteligência Artificial (IA) e da computação em nuvem, já ultrapassa a marca dos R$ 50 bilhões, com projetos ambiciosos em estados como Ceará e possibilidades que se abrem no Rio Grande do Norte, graças a abundância de energia limpa.
O destaque absoluto desta transformação é o Complexo do Pecém, no Ceará, que será a sede do maior data center do País. A Omnia, empresa de data centers da gestora Patria, confirmou um empreendimento de R$ 50 bilhões que terá uma capacidade de processamento colossal de 200 megawatts (MW). Esse volume equivale a um terço de toda a capacidade atualmente instalada no Brasil.
O investimento se divide em R$ 10 bilhões aportados pela Omnia na construção e operação, e R$ 40 bilhões destinados a equipamentos, que virão de uma "big tech" multinacional. Embora o nome da futura inquilina não tenha sido oficialmente revelado, informações de mercado apontam para a ByteDance, controladora do TikTok, como a principal cliente, demonstrando o apetite de gigantes globais pela infraestrutura nordestina.
A sustentabilidade é o pilar do negócio. A Casa dos Ventos, parceira no projeto, planeja investir até R$ 4 bilhões na construção de novos parques eólicos e solares na região, garantindo que o data center de Pecém seja abastecido com energia 100% limpa. As obras estão previstas para começar ainda este ano, com inauguração programada para o segundo semestre de 2027.
Vantagem Competitiva Global: A ZPE e a Energia Limpa
O que torna o Complexo do Pecém irresistível para esses mega investimentos? Segundo Rodrigo Abreu, presidente da Omnia, é uma combinação de fatores difícil de replicar no mundo. O grande trunfo é o status de Zona de Processamento de Exportação (ZPE).
Este regime especial garante um tratamento tributário diferenciado, com cortes significativos em impostos federais (IPI, Cofins, PIS/Pasep) e estaduais (ICMS). Essa vantagem fiscal coloca o Pecém em um nível de competitividade comparável ou até superior a projetos na Ásia e nos Estados Unidos, especialmente para uma operação que envolve processamento de dados vindos de outros países.
Além disso, a localização é estratégica. A proximidade de Fortaleza garante mão de obra qualificada e, principalmente, o acesso aos cabos submarinos de fibra ótica que conectam o Brasil à América do Norte, Europa e África, fator determinante para a baixa latência no tráfego de dados.
A Expansão para o Rio Grande do Norte
Na corrida por data centers no Nordeste, o Rio Grande do Norte também está se posicionando como um futuro polo, com a mesma base de atração: a geração abundante de energia limpa, mas ainda enfrenta dificuldades com licenciamento ambiental e com desafios regulatórios a superar para viabilização plena dos projetos no estado
A Casa dos Ventos, que já é parceira em projetos no Complexo do Pecém, no Ceará, planeja construir o Data Center Santa Luzia no município de Campo Redondo, no RN. Esse projeto está em fase inicial e passou por revisões na projeção de demanda de energia. O requisito para acesso à rede elétrica foi protocolado junto ao Ministério de Minas e Energia, porém o empreendimento ainda enfrenta desafios quanto ao licenciamento ambiental na região, que tem histórico de seca, e não há convênios formais assinados com o governo estadual até o momento.
Enquanto isso, o Ceará avança com a expansão do Complexo do Pecém, que deve se tornar um parque de data centers com capacidade estimada entre 1 GW e 2 GW, consolidando o Nordeste como um centro de processamento de dados na América Latina. No Ceará, a Scala Data Centers também dobrou seu investimento em Fortaleza, com um novo projeto bilionário previsto, reforçando a tendência de atração para a região.
No escopo mais amplo, o Programa Chamada Nordeste do BNDES destina cerca de R$ 10 bilhões para investimentos em setores diversos, incluindo data centers verdes, impulsionando ainda mais a instalação de infraestruturas de alta tecnologia sustentáveis no Nordeste. São mais de 35 projetos de data centers verdes na região, com demanda de crédito que soma quase R$ 17 bilhões, demonstrando o potencial desse mercado.
Para Lucas Araripe, diretor executivo da Casa dos Ventos, o Brasil, com destaque para o Nordeste, está muito bem posicionado para se tornar um destino global dessa nova indústria que exige elevado poder de processamento junto com a disponibilidade garantida de energia limpa e renovável.