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Cidades brasileiras apostam na reocupação das áreas históricas

Durante décadas, os centros das cidades brasileiras perderam vitalidade, moradores e negócios diante da expansão desordenada e da falta de políticas públicas consistentes. Agora, uma nova agenda urbana tenta inverter esse quadro. Capitais como Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte apostam em programas de revitalização que combinam habitação, cultura, mobilidade e incentivos fiscais para devolver vida às áreas centrais.

Em Recife, o Programa Recentro, lançado em 2021, já reabilitou mais de 90 mil metros quadrados de área construída. A prefeitura criou um gabinete exclusivo para o projeto, articulando parcerias com o setor privado e a academia. Os resultados incluem 37 imóveis beneficiados com incentivos fiscais, captação de R$ 400 milhões em investimentos privados e a destinação de R$ 200 milhões em obras públicas. Uma PPP habitacional promete entregar 1.200 novas residências a partir do retrofit de prédios ociosos, enquanto eventos culturais e circuitos turísticos reforçam a vitalidade do território.

O movimento não é isolado. No Rio de Janeiro, o Reviver Centro criou mecanismos de mercado para atrair moradores de volta. Quem constrói ou reforma imóveis habitacionais na região central recebe bônus imobiliários que podem ser utilizados em áreas valorizadas da cidade. O programa se soma ao legado do Porto Maravilha e busca transformar a região em um polo de habitação, turismo e lazer, com mobilidade sustentável e maior uso noturno dos espaços.

Em São Paulo, a meta é ousada: 220 mil novos moradores no centro nos próximos anos. O Requalifica Centro, lançado também em 2021, prevê incentivos tributários e estimula o retrofit de edifícios, o uso misto de imóveis e fachadas ativas. O objetivo é transformar uma área de 6,4 km² em espaço dinâmico, que combine moradia, comércio e lazer, fortalecendo a segurança pela presença contínua de pessoas.

Já em Belo Horizonte, a prefeitura aposta no programa Centro de Todo Mundo, que inclui a reforma de praças, corredores culturais e incentivos para moradia popular no hipercentro. Entre as medidas, estão previstas intervenções de mobilidade ativa, recuperação do patrimônio histórico e estímulo a negócios criativos, buscando atrair diferentes faixas de renda para viver na região.

Em Natal, o ex-prefeito Álvaro Dias apostou em obras públicas para tentar recuperar a vitalidade do centro histórico. Intervenções como a que foi feita no Beco da Lama e no Espaço Ruy Pereira, a urbanização da avenida do Contorno em duas praças com vista para o rio Potengi, parte do projeto de recuperação da Pedra do Rosário e sua tradição, que também contempla a avenida Tavares de Lira, entre outras obras de recapeamento e iluminação em avenidas e ruas importantes do Centro e da Ribeira foram efetuadas ou ainda estão em andamento, mas praticamente nada aconteceu em termos de novas moradias na região. Este ano, prefeitura instalou um grupo multissetorial para estruturar um plano integrado de revitalização, em diálogo com o Iphan e o setor cultural. Em setembro deste ano, também iniciou negociações com a Caixa Econômica para viabilizar projetos habitacionais no Centro Histórico.

Especialistas apontam que a reocupação dos centros é uma estratégia de sustentabilidade. Ao aproveitar infraestrutura já instalada — transporte, escolas, hospitais, equipamentos culturais —, as cidades reduzem custos públicos com expansão urbana e ainda encurtam distâncias percorridas pela população, diminuindo congestionamentos e emissões de gases de efeito estufa. O retrofit aparece como peça-chave, permitindo modernizar prédios antigos sem apagar sua história.

“Não há bala de prata: cada cidade precisa encontrar soluções próprias, mas o caminho passa por habitação, segurança e cultura”, avalia José Carlos Martins, presidente do Conselho Consultivo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Para ele, devolver vida ao centro exige uma mescla de usos, com moradias para todas as faixas de renda, comércio, lazer e serviços funcionando em diferentes turnos do dia.

A tendência aproxima o Brasil de experiências internacionais, como Lisboa, Barcelona e Paris, que conseguiram revitalizar seus centros sem abrir mão da preservação histórica. Recife, Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Natal mostram que o tema entrou de vez na agenda urbana nacional. A disputa agora é pelo tempo: quanto mais rápido os centros forem reocupados, maiores as chances de as cidades crescerem de forma mais sustentável e inclusiva.

Com informações do Movimento Somos Cidade

 


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