O psiquiatra gaúcho Luis Augusto Rohde, professor da UFRGS e referência internacional em TDAH, foi o primeiro latino-americano a receber o prestigiado Prêmio Ruane da Brain & Behavior Research Foundation (BBRF) — considerado o “Oscar da saúde mental”.
Em entrevista ao jornal O Globo, conduzida por Bernardo Yoneshigue, Rohde diz que "não existe aumento de TDAH nem de autismo na população.”
O que cresce, segundo ele, é o número de diagnósticos formais, resultado da maior conscientização, da ampliação dos critérios clínicos e da busca crescente por ajuda.
Se é assim por que parece que há mais casos?
Rohde explica que o número de pessoas com TDAH não mudou — continua em torno de 5% das crianças e adolescentes. O que mudou foi o olhar da sociedade.
Hoje, há mais informação e menos preconceito, o que faz com que famílias procurem atendimento médico mais cedo. Além disso, grupos antes ignorados passaram a ser identificados como meninas, cujos sintomas de desatenção costumam ser mais sutis, e adultos que viveram boa parte da vida sem diagnóstico.
No caso do autismo, o aumento de diagnósticos está ligado à mudança no conceito médico. Antes, apenas casos graves entravam na categoria. Agora, com o espectro autista, há espaço para reconhecer diferentes níveis de funcionamento, o que inclui pessoas com boa comunicação, mas que ainda enfrentam dificuldades de interação social.
Um ponto que preocupa o especialista é a desinformação sobre TDAH e autismo nas redes sociais.
Ele cita um estudo que analisou os 100 vídeos mais populares sobre TDAH no TikTok; "Mais da metade trazia informações erradas sobre o transtorno".
Rohde alerta que muita gente confunde associação com causa. Por exemplo: o tempo excessivo em frente às telas está ligado a sintomas de desatenção, mas isso não significa que um causa o outro. Em muitos casos, crianças com TDAH já tendem a usar mais telas, por terem mais dificuldade de manter rotinas e controlar impulsos.
O que deve acender o sinal de alerta nos pais?
Segundo Rohde, o TDAH e outros transtornos psiquiátricos não são “tudo ou nada”. Eles existem em graus, como a altura ou a cor dos olhos.
Por isso, o que realmente deve preocupar os pais é a intensidade e a frequência dos sintomas — e, principalmente, se eles trazem prejuízo à vida da criança. “O sinal de alerta é quando a desatenção, a impulsividade ou a agitação são intensas, acontecem com frequência e atrapalham o aprendizado, a convivência com colegas ou a relação com a família.”
No caso das birras e da agressividade, o psiquiatra orienta observar:
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Se as crises acontecem várias vezes por semana (e não de vez em quando);
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Se duram mais de meia hora;
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E se o comportamento afeta o bem-estar da criança e da família.
Quando esses sinais aparecem juntos, é hora de procurar ajuda profissional.
TDAH, ansiedade e depressão: conexões importantes
O TDAH é uma condição do neurodesenvolvimento, ligada à forma como o cérebro amadurece — especialmente áreas responsáveis pelo autocontrole e pela atenção. Há uma forte influência genética, mas o ambiente e o estilo de vida também fazem diferença.
O psiquiatra lembra ainda que, entre jovens de 5 a 24 anos, a principal carga de doenças vem dos transtornos mentais, especialmente ansiedade e depressão. Por isso, o tratamento mais eficaz é o chamado “multimodal”, que combina várias estratégias,
Ao receber o “Oscar da saúde mental”, Luis Augusto Rohde reforça uma mensagem de equilíbrio e esperança: compreender melhor o TDAH e o autismo não é motivo para medo, e sim para acolhimento e ação informada. “Quando há informação de qualidade, o diagnóstico não é um rótulo, é um caminho para que a criança possa se desenvolver com mais autonomia, saúde e confiança”, resume o psiquiatra.