O Brasil começa a acelerar o passo rumo à aviação sustentável com o avanço dos projetos de SAF (Sustainable Aviation Fuel), o combustível limpo que promete reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa no setor aéreo. Embora o caminho até a produção comercial ainda envolva desafios técnicos e financeiros, centros de pesquisa como o que funciona em Natal (RN) já estão fazendo a diferença.
Na capital potiguar, o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) opera desde 2023 o H2CA, primeiro laboratório do país com uma planta piloto de SAF em funcionamento. A partir da glicerina, um resíduo da indústria do biodiesel, pesquisadores conseguem produzir diariamente uma quantidade não divulgada publicamente, mas que se estima em cerca de 15 litros de combustível sintético. O processo é baseado na rota Fischer-Tropsch, uma das mais promissoras do mundo, e tem como objetivo validar tecnologias que possam ser escaladas em unidades industriais.
Além disso, Natal já se prepara para um segundo salto: a construção, em parceria com a Petrobras, de uma planta-piloto para produção de hidrogênio verde com energia solar, prevista para entrar em operação até 2026. O hidrogênio é peça-chave para novas rotas de SAF e para outros combustíveis de baixo carbono, e sua produção no Rio Grande do Norte reforça o protagonismo da região na transição energética.
Enquanto isso, empresas como a Geo Biogás & Carbon e a própria Petrobras planejam iniciar a produção comercial de SAF em São Paulo nos próximos anos. Estimativas apontam que o Brasil pode responder por até 75% da produção de SAF da América do Sul até o fim da década, aproveitando seu histórico com biocombustíveis e abundância de biomassa.
Mas o desafio ainda é grande: o SAF custa de duas a cinco vezes mais que o querosene convencional, e depende de incentivos e marcos regulatórios para se viabilizar. Mesmo assim, o que já está acontecendo em Natal mostra que a transição é possível — e que o Brasil pode começar sua revolução energética a partir do Nordeste.