A semana termina com um movimento estratégico que revela que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende entrar em 2026 com medidas de impacto direto na vida das famílias de olho na conquista do voto da classe média. Nesta sexta-feira, 10, o Executivo anunciou o aumento do valor máximo financiável pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões e novas linhas de crédito para reformas residenciais de R$ 5 mil a R$ 30 mil.
O lançamento é parte do chamado “pacote de bondades” que, somadas as demais medidas, pode chegar a R$ 100 bilhões. A aposta é clara: gerar efeitos econômicos e políticos visíveis, reforçando a popularidade do presidente em um ano eleitoral que promete ser disputado.
O problema é o rombo nas contas públicas que irá deixar para seu sucessor. O próprio presidente criticou a quantidade de notícias sobre o déficit fiscal Ele, no entanto, refutou as afirmações de irresponsabilidade fiscal e citou as reservas internacionais criadas no seu governo anterior como prova de que, ao contrário, tem trabalhado para garantir a sustentabilidade da economia nacional.
Além do crédito imobiliário, o pacote de bondades inclui a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a distribuição gratuita de gás de cozinha a até 17 milhões de famílias, a tarifa social de energia elétrica e o pagamento de bolsas do Pé-de-Meia para estudantes do ensino médio. Medidas ainda em estudo, como passe livre no transporte público e reajuste do Bolsa Família, também estão na mira do governo para ampliar o impacto político do pacote.
O desafio é fiscal. O financiamento depende de receitas que ainda não estão garantidas: a medida provisória alternativa ao aumento do IOF foi derrubada pela Câmara, e cortes em benefícios tributários enfrentam resistência. O aumento do IR sobre rendas mais altas ainda precisa ser confirmado. Sem esses recursos, o pacote dependerá de ajustes complexos no Orçamento, elevando o risco fiscal.
Em outras palavras, o governo está combinando microeconomia eleitoral com política social de impacto direto: crédito para imóveis e reformas, programas de transferência de renda e tarifas subsidiadas, tudo pensado para aparecer no dia a dia do eleitor. A engenharia orçamentária necessária mostra que a estratégia é ousada, mas arriscada.
O lançamento desta semana deixa evidente que Lula quer medidas concretas que toquem a vida das famílias, que movimentem setores econômicos e que reforcem sua imagem de gestor pragmático e social. O pacote de bondades, somado às iniciativas de crédito imobiliário, sinaliza que o PT entra na corrida presidencial com armas bem calibradas.
No fim, a novidade da semana é também a estratégia da eleição: Lula aposta em ações tangíveis e imediatas, buscando equilibrar popularidade, impacto econômico e presença no cotidiano do eleitor. Se o plano dará certo, dependerá tanto da execução quanto da capacidade de enfrentar o tabuleiro político de 2026.
O pacote de bondades:
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Isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil por mês, com compensação pela taxação de rendas mais altas (impacto estimado em R$ 31,25 bilhões);
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Pé-de-Meia, programa que concede bolsas a estudantes do ensino médio (R$ 12 bilhões);
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Auxílio Gás, garantindo gás de cozinha gratuito a até 17 milhões de famílias (R$ 5,1 bilhões);
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Tarifa Social de energia elétrica, beneficiando 17 milhões de famílias (R$ 3,6 bilhões, subsídio bancado pela CDE);
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Crédito imobiliário e reformas, já detalhados, somando R$ 20 bilhões em financiamento habitacional e R$ 30 bilhões em crédito para reformas, com subsídio de R$ 7,3 bilhões;
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Medidas cogitadas, como passe livre em transporte público e reajuste do Bolsa Família, ainda sem definição de custo.