O futuro político no Brasil em 2026 se desenrola agora também em Nova York, onde os presidentes Lula e Trump tiveram um encontro de apenas 30 segundos, mas o suficiente para deixar no ar um leque de possibilidades sobre os desdobramentos que isso gerar.
Se o encontro anunciado entre os dois tiver desdobramentos na próxima semana com um novo encontro mais formal como anunciado e resultar em algum acordo que diminui a taxação imposta pelos EUA aos produtos brasileiros, o presidente Lula sai da história como um estadista que defendeu os interesses nacionais e ainda conseguiu negociar com a maior potência do mundo, sem renunciar à sua soberania.
Se, por outro lado, o encontro acontecer e o presidente americano exigir algum tipo de anistia ou perdão ao ex-presidente Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por golpe de Estado, para diminuir as taxas sobre o Brasil e tirar ou deixar de aplicar novas sanções contra autoridades brasileiras ai Lula ficará numa situação difícil por não ter como atender medidas desse tipo a não ser que faça algum acordo com o próprio STF para aceitar algum tipo de PEC da Dosimetria a ser aprovada no Congresso com o aval implícito do próprio governo e do Judiciário, mesmo que ninguém admita isso publicamente.
Mas enquanto, em Nova York, Donald Trump surpreendeu ao afirmar, durante a abertura da 80ª Assembleia-Geral da ONU, que se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “um cara legal”, na próxima semana para discutir as tarifas impostas aos produtos brasileiros. Em Brasília, o Conselho de Ética da Câmara deu início ao processo disciplinar que pode levar à cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado de atuar contra os interesses nacionais no exterior.
Do lado governista, o gesto foi interpretado como sinal de pragmatismo: mesmo mantendo a retórica de retaliação ao Supremo Tribunal Federal, Trump abriu espaço para o diálogo com o atual governo brasileiro, abrindo para o Planalto, uma oportunidade até então negada, de reduzir atritos e evitar que a crise das tarifas afete setores estratégicos da economia. A diplomacia brasileira aposta que Lula pode explorar a “boa química” mencionada por Trump para reverter parte das medidas anunciadas em julho, que incluíram sobretaxas e sanções a autoridades brasileiras.
Eduardo exalta genialidade de Trump
Já o próprio Eduardo Bolsonaro reagiu de maneira inesperada: em vez de adotar tom defensivo, preferiu exaltar a “genialidade” de Trump como negociador e insinuar que Lula aparece enfraquecido no cenário global. “Ele entra na mesa quando quer, da forma que quer e na posição que quer. Enquanto isso, outros líderes, como Lula, assistem impotentes, sem qualquer capacidade real de influenciar o jogo global”, escreveu expondo o óbvio disparate entre o poderio americano e o brasileiro no cenário internacional.
Mas se a cena na ONU abre brechas para negociações, em Brasília o clima é de cerco político. O Conselho de Ética sorteou os nomes que podem relatar a representação do PT contra Eduardo Bolsonaro. O partido acusa o deputado de usar o mandato para conspirar contra instituições brasileiras ao articular, nos Estados Unidos, sanções contra ministros do STF e autoridades nacionais. A denúncia da PGR por coação no curso do processo reforça essa narrativa.
Já o presidente da Câmara, Hugo Mota, negou a manobra regimental do PL para que o deputado Eduardo Bolsonaro assumisse a liderança da minoria na Câmara o que teoricamente lhe permitiria manter um mandato mesmo morando nos Estados Unidos. A manobra, imoral por si mesma, permitiria ao filho do ex-presidente continuar morando nos Estados Unidos sem perder o mandato e ganhando integralmente o salário e todas as muiuuitas vantagens que um deputado dispõe em comparação a milhões de trabalhadores que todos os dias nos seus trabalhos para levar o pão para casa.
Sem direito a essa mamata, o deputado pode perder o mandato caso decida permanecer nos Estados Unidos. O parecer da Secretaria-Geral da Mesa foi contundente ao afirmar que sua ausência prolongada, sem comunicação à presidência da Câmara, constitui violação funcional. O veto à tentativa de torná-lo líder da Minoria tornou ainda mais difícil a tarefa de evitar que suas faltas sejam contabilizadas, abrindo caminho para perda automática do mandato.
A equação é simples: se Lula conseguir extrair algo positivo da negociação com Trump, reforçará sua posição interna e reduzirá o espaço político da oposição, especialmente da família Bolsonaro a quem culpa pelas sanções que estão sendo impostas ao Brasil a partir do trabalho do deputado Eduardo Bolsonaro nos states. Já os Bolsonaros, o deputado, o senador, o vereador, o ex-presidente e sua atual mulher continuam apostando que o encontro entre os dois presidentes só resultará em algo positivo se implicar em anistia ao ex-presidente que ainda sonha em uma candidatura em 2026, que parece cada vez menos provável.
O tabuleiro político se mexeu em duas frentes e o saldo parece mais favorável ao governo do que ao bolsonarismo, que ainda se vê acossado pelo Centrão que deseja a candidatura de Tarcísio de Freitas à presidência com o apoio também explícito do empresariado nacional.