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Deu no New York Times

Os líderes das maiores nações do Hemisfério Ocidental estão insistindo em algo estranhamente mundano. Eles acharam necessário — e popular — ressaltar que governam nações soberanas.

Isso não era um detalhe que precisava de muita explicação antes. Mas então chegou o presidente Trump. Ele tem feito exigências repetidas ao México, Canadá, Brasil e outras nações — incluindo com quem podem comercializar, a quem podem investigar e como devem garantir sua segurança. Ele tentou usar tarifas, investigações comerciais e ameaças de força para fazê-los obedecer.

Como resultado, a soberania está em alta.

Reação

Trump ficou famoso mandando nos outros. Esse era o conceito central do programa "O Aprendiz". Seu estilo de governar segue o mesmo formato: ele espera obediência.

Em seu segundo mandato, ele se mostrou ainda mais disposto a pressionar os vizinhos dos EUA — e essas nações não aceitaram isso muito bem.

México: Trump criticou duramente a forma como o país lida com imigração, drogas e comércio. A presidente Claudia Sheinbaum, por sua vez, destacou que o México é uma nação soberana pelo menos 30 vezes durante suas coletivas de imprensa diárias este ano. “O México não é submisso a ninguém”, disse ela no mês passado.

Canadá: Depois que Trump disse que o vizinho do norte deveria se tornar o 51º estado dos EUA, Mark Carney venceu as eleições canadenses para primeiro-ministro em uma vitória esmagadora, prometendo defender seu país das “ameaças à nossa soberania” vindas de Trump.

Panamá: Trump prometeu “reconquistar” o Canal do Panamá. O presidente José Raúl Mulino respondeu: “A soberania e a independência do nosso país não são negociáveis.”

Colômbia: Trump ameaçou aplicar tarifas de 50% sobre as importações colombianas depois que o presidente Gustavo Petro se recusou a aceitar voos de deportação. Petro respondeu com um desdém: “Eu não aperto a mão de escravizadores brancos.”

Brasil: Neste mês, Trump ameaçou impor tarifas de 50% sobre importações brasileiras para tentar fazer o país arquivar o processo criminal contra seu aliado Jair Bolsonaro, ex-presidente de direita. Bolsonaro é acusado de tentar dar um golpe de Estado após perder as eleições de 2022. Trump diz que o caso é uma “caça às bruxas”.

Desde o início do embate neste mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobriu suas redes sociais com referências à soberania, fez discursos inflamados por todo o Brasil prometendo que o país não será subjugado e passou a usar um boné com os dizeres “O Brasil pertence aos brasileiros.”

“Ele foi eleito para cuidar do povo americano”, disse Lula sobre Trump neste mês. “O povo brasileiro sabe cuidar de si mesmo.”

As consequências

Apesar da resistência, algumas exigências de Trump surtiram efeito.

Para tentar evitar tarifas, México e Canadá prometeram reforçar o combate às drogas e à imigração ilegal em suas fronteiras. Estão tentando reduzir as importações da China. E o México enviou 29 líderes de cartéis procurados pelas autoridades americanas para os Estados Unidos.

A Colômbia cedeu rapidamente e aceitou os voos de deportação. O Panamá permitiu a expansão da presença militar dos EUA no Canal, reduziu os negócios com a China e autorizou a BlackRock, uma empresa americana de investimentos, a comprar dois portos estratégicos próximos ao canal.

O Brasil, no entanto, parece menos propenso a ceder. O governo vê o processo criminal que Trump quer interromper como fundamental para a democracia do país. O Supremo Tribunal Federal reagiu às ameaças de Trump colocando uma tornozeleira eletrônica em Bolsonaro. E Lula prometeu tarifas retaliatórias.

Isso pode transformar o Brasil no caso de teste: o que acontece quando Trump enfrenta uma nação soberana que não obedece suas ordens?

 

Do New York Times


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