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Brasil entre a liderança e o risco da inconstância política no uso dos biocombustíveis

Um novo e robusto relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), desenvolvido a pedido da Presidência brasileira da COP30, reconhece o Brasil como um modelo para a descarbonização do transporte. O documento é categórico: a bioenergia é essencial para limitar o aquecimento global a 1,5º C, e o país é um "campeão" nesse esforço.

O Brasil é, de fato, uma potência: com o segundo maior mercado de etanol do mundo, o país tem mais de 25% da energia de seu transporte vinda de fontes renováveis. O relatório destaca a redução de até 90% nas emissões do etanol de cana em comparação com a gasolina, além de desmistificar a preocupação do uso da terra: a expansão da cana tem ocorrido, majoritariamente, sobre pastagens degradadas, o que mitiga o risco de desmatamento.

Contudo, o tom da IRENA é de cautela, alertando que o maior desafio para consolidar essa liderança não é técnico, mas político. A instabilidade regulatória e a falta de continuidade nas políticas de longo prazo minam a segurança jurídica e afastam os investimentos necessários, além de serem criticadas as distorções causadas por subsídios aos combustíveis fósseis.

Para transpor esses obstáculos e assegurar o futuro verde, o relatório propõe um roteiro rigoroso. O Brasil precisa intensificar o Investimento em P&D para desbloquear a próxima geração de biocombustíveis. O foco deve ser em Combustíveis Sustentáveis de Aviação (SAF) e no Etanol de Segunda Geração (E2G). Mais ambiciosamente, o país deve buscar a vanguarda ambiental utilizando a tecnologia de Captura e Armazenamento de Carbono (BECCS) acoplada à bioenergia, o que permitiria ao etanol alcançar uma inédita pegada de carbono negativa.

Paralelamente, a credibilidade é crucial. A IRENA exige a adoção de práticas de sustentabilidade transparentes e rastreáveis (sociais e ambientais), com a chancela de certificação independente de terceiros, garantindo que o crescimento seja sustentável.

O documento da IRENA serve como um guia de correção de rota e mostra que o Brasil detém a tecnologia e o potencial para ser a solução global do transporte verde, mas só alcançará esse status se conseguir blindar seu setor energético contra a inconstância de sua própria política interna, investindo em inovação certificada e transparência.


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